sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Un milagro Angostura

Algumas bebidas, alcoólicas ou não, têm formulas tão secretas que ninguém as conhece por inteiro, somente partes. Juntá-las na hora certa deve ser uma operação quase militar. A Angostura, uma bebida amarga, aromática e aparentemente inofensiva que entra no preparo de coquetéis clássicos e em várias receitas de cozinha é uma dessas. Embora um bitter, não é daqueles convencionais para se tomar em copos longos com gelo e soda. Ao contrário, seu uso é limitado a algumas gotas para adicionar aroma e sabor em drinks, frutos do mar, saladas de frutas, sobremesas e pâtisserie em geral. O que faz a Angostura tão importante para merecer tanto cuidado é o fato de ser um produto sem similar e elaborado com fórmula secreta em um único lugar.

Quanto à sua composição, o rótulo menciona vagamente ser "uma preparação aromática de água, álcool, genciana e extratos vegetais inofensivos para dar sabor e cor ao produto", ou seja, não esclarece nada. Todo bar que se preze, em qualquer parte do mundo, deve ter pelo menos uma garrafinha dessas em estoque. Parecida com as de molho inglês, elas vêm embrulhadas em papel branco impresso em letras pretas miúdas com diversas sugestões para seu uso, que incluem além das óbvias na preparação de drinks, servir também para a cura da flatulência. Longe de ser brincadeira, essa referência medicinal, entre outras, vem da origem da sua criação em 1824 na Venezuela pelo médico alemão Dr. Johann Gottlieb Benjamim Siegert e mantida por razões históricas.

Nessa época o Dr. Siegert era o cirurgião responsável pelo hospital militar do General Simon Bolívar. Lá, os valentes soldados se queixavam muito de cólicas estomacais. Após quatro anos de experiências, o médico desenvolveu um tônico mágico, um fermentado de ervas e raízes tropicais, cascas, água e álcool que pareceu resolver o problema. Ele o chamou de Amargo Aromático Angostura em homenagem à cidade de Angostura, hoje Ciudad Bolívar. Siegert morreu em 1870, mas não antes de partilhar a fórmula secreta com seus filhos. Devido ao clima político instável no país, os irmãos se transferiram para Port-of-Spain em Trinidad, onde a fábrica permanece até hoje. Depois de várias mudanças no controle acionário, porém sempre com a participação dos descendentes diretos do velho cirurgião militar, a empresa tornou-se publica em 1981.

Embora permitindo tours guiados, os visitantes que percorrem as bem guardadas instalações da fábrica somente têm acesso ao laboratório, à sala de troféus, parte da destilaria e seção de engarrafamento. O laboratório é o local em que as ervas, raízes e especiarias são maceradas com álcool. Praticamente todos os ingredientes vêm de lugar ignorado pelos funcionários e quando chegam são identificados por códigos. Depois da maceração, a solução é destilada, misturada com açúcar e colocada em tanques de aço inoxidável para maturar por tempo não revelado. No final, a mistura é colocada em outro conjunto de tanques, diluída com água, engarrafada, rotulada e despachada para todas as partes do mundo. O final do tour é a sala de degustação, onde os visitantes são convidados a provar seus produtos. Durante a prova, na sala intensamente perfumada pela Angostura e com toda aquela atmosfera de mistério que cercou a visita, provavelmente as pessoas devem achar que é melhor mesmo que certos segredos fiquem mantidos para sempre.


Minha casa me guarda como um abraço


É preciso fritar o arroz bastante
antes de colocar água fervendo.
E não pode mexer jamais depois de a água ser posta.
O alho deve fritar junto com o arroz.


Coisas que eu sei e que não. Eu sei muitas coisas.
Faxina, por exemplo. Sei limpar uma casa de tal modo
que não sobra um canto que não
tenha sido tocado por minhas mãos.

Depois vou sujando. Com muito gosto.
Deixo peças na sala e louças na pia.

Não na mesma hora, mas um pouco bastante depois
volto limpando. Assim me faço.
Nos abjetos que me acompanham.


Gosto de andar nas ruas e comprar coisas
que vão se arrumando em torno de mim.
Eu tenho muitas coisas,
quero dizer, tenho muitas camadas.

Uma camada de livro, outra de sapatos.
Tem a camada de plantas. A toalhas de rostos.
Tenho camadas de cosméticos e adereços.

Uma camada de nomes e coisas que vejo.
Tudo ordenado ao meu redor. Em forma de corpo.
Um corpo que me sustenta
quando o meu próprio me falta.


Cadeiras são meus ossos.
Sapatos são meus braços.
Torneiras são meus poros.
Paredes como roupas de inverno.
(Quando toca música em minha casa sai do umbigo.)


Descanso recostada nas paredes da casa
que me guardam como um abraço.

Me abraço quando e derramo na sala.
E na cozinha. Em geral adormeço no quarto.


Tudo em minha casa tem existência.
Todas as coisas significo. Com os olhos.
Ou com as mãos. Minha casa tem silêncios
que às vezes ouço. Em meu corpo

tem silêncios maiores ainda.
Que as vezes ouço. E faço poemas.
Faço poemas dos silêncios que ouço.


Ando com manias de lustra-móveis e ceras líquidas.
Olho um por um nas prateleiras. Sinto a textura e o cheiro.
Espalhando um pouco entre os dedos. Prefiro os de textura fina

e que cheiram a jasmim (gosto mais do aroma floral mas a palavra jasmim é tão bonita).
Levo todos pra casa e vou espalhando. Primeiro o assoalho.
Considero todos os cantos. Depois os móveis
com as mãos vou tateando. Um por um.

Em reverência.
Ao que me sustenta em des
amparo.

As casas me sustentam em mim. Por isso as quero em detalhes.
Bem cuidadas e cheias de espaço onde novas coisas se deitam.
Costumo encontrar tesouros escondi
dos na dobras das colchas.
E nas louças sujas da pia. Tenho muitas janelas.
Que é por onde o sol e a chuva me visitam.
O vento aqui é muito forte.

Às vezes derruba tudo e eu gosto.
Mas aqui também cabem pessoas.
Tem sempre lugar pra pessoas em mim.


Viviane Mosé

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Filosofia de Vida e Arte

"A vida imita a arte, que imita a vida, que imita a arte,
e por isso as duas coisas acabam sendo uma só, como todos sabem."

[Um beijo de Colombina, de Adriana Lisboa, página 59]

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Incoerência

Lá em São Paulo eles tinham esse grupo, Mário de Andrade, Trasila do Amaral, Pagu, Anita Malfatti, Oswald de Andrade. Anita, dizem, acabou apaixonada por Mário, e Mário acabou apelidado de Miss Macunaíma por Oswald, entre outras rixas mais, e Oswald, que preferiu o angu de Pagu, acabou enxotado pela mulher, Tarsila, e Tarsila, que despertara uma paixão em Mário, acabou odiada por Anita, que nunca mais conseguiu pintar nada que prestasse depois que Monteiro Lobato acabou com ela numa crítica.
Isso me fez lembrar o Quadrilha, de Drummond. Ou talvez a Quadrilha. É, a! Um ambiente em que não tem final de contos de fadas para ninguém, em que estão todos insaciados e desafortunados, eles
sim são uma quadrilha. Assoladores de faculdades afectivas.

João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J.Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.

É fado do ser humano estar sempre insatisfeito com tudo, sempre nada é suficiente para ter motivo de extravasar sua infelicidade. Uma segunda-feira chuvosa, um arroz queimado, o que for. Realmente, não sabemos, aliás, muitos não sabem o que realmente é a infelicidade. Isso pode soar bastante cliché ou mesmo como uma hipocrisia. E é! Mas quem não é hipócrita ou usa estereótipos de vez em quando para passar uma mensagem elegante que atire a primeira pedra. De outro modo, primeiro a análise era sobre os amores ilícitos da sociedade paulista da década de 20, depois as insatisfações e impertinências do amor e, agora, o feijão queimado. É melhor não continuar, amanhã é dia de acordar cedo. Boa noite.
Ou quem não usa desculpas incoerentes em certas ocasiões?


quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

One Evening

Com um vocal doce e suave, com seus vídeos clips de cores super vivas e, particularmente, divertidos, a cantora canadense Leslie Feist, encanta a todos que a escutam.
Feist, já foi colega de quarto da Peaches, já morou na França, já fez trilha sonora de perfume, já recebeu uma oferta pelos direitos autorais da mesma canção de um milhão de dólares da McDonald's e já recusou toda essa riqueza de primeira, como toda boa menina. Do punk ao pop fofinho, Feist passou pelo pop eletrônico e pelo indie rock até definir seu som em discos solos.


Feist nasceu à 13 de janeiro de 1976 em Amherst, Nova Scotia. Iniciou-se na música aos 15 anos com a fundação de uma banda punk. Sim, aquela mocinha de voz, aparentemente, delicada era a vocalista. Mas os gritos punk não lhe fizeram bem, após a primeira turnê da banda Placebo (não, não é aquela famosa banda inglesa) que fez pelo Canadá quando tinha 19 anos, a cantora teve que mudar-se para Toronto para cuidar da voz. Os especialistas chegaram a alertá-la de que, talvez, ela não conseguisse mais voltar a cantar. Mas, depois deste diagnóstico, Feist não esmoreceu e nem tentou cometer suicídio. Começou a passar horas e horas dentro do porão, após comprar uma guitarra, fazendo composições para espantar a tristeza e se recuperar dos danos causados à voz. Depois de um tempo, voltou como guitarrista de algumas bandas, até centrar-se na carreira solo.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

A televisão enquanto meio de comunicação

É deprimente o nível dos espetáculos televisivos do nosso País. Aos domingos, então, somos bombardeados com programas extremamanete educativos e de uma carga cultural explêndida. O quê, você não admira o Gugu Liberato?
Toda esta situação me angustia e, com certeza, angustia todos que tem o mínimo desenvolvivento intelectual. Me preocupo com meus filhos, que tipo de programas vão assistir? Faustão?
Sem mencionar na falta de pudor e na promiscuidade exacerbada que eles parecem reproduzir com tanta naturalidade. Aos cinco anos, as crianças de hoje já falam de assuntos que a minha geração só falava aos doze. E tudo isto, não se enganem, é devido à
ela.
Com toda a carga de cultura que os programas, principalmente da TV aberta, reproduzem, quem sai lucrando mesmo é a Mafalda.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Ser canhoto tem efeitos colaterais

De acordo com pesquisa realizada por uma das mais renomadas revistas de medicina dos Estados Unidos, The New England Journal of Medicine, os destros vivem nove anos a mais que os canhotos. Entre as possíveis causas da menor expectativa dos pobres esquerdistas aponta-se o maior risco de sofrer acidentes, em geral. Outras estatísticas relacionam também o fato de eles terem maior ocorrência de distúrbios no sistema imunológico e estarem mais sujeitos a doenças neurológicas. Portanto, conseqüentemente, morrem mais cedo. Mas, como nem tudo é trevas, outra pesquisa pesquisa realizada na Austrália indica que pessoas canhotas pensam mais rápido quando estão praticando certas atividades, como esportes ou jogando jogos de computador.
Isto ainda não te conforta, miserável escrevedor de mão esquerda? Então relembre que muitos sábios do passado eram canhotos, da Vinci, Einstein, Napoleão, Gandhi, Chaplin, e isso não os impediu de seus grandes feitos.
Porém uma coisa é certa, quem é totalmente canhoto nunca vai ser destro. Não adianta forçar a mão.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Maçã, sim!

Alguém boceja, descontroladamente, ao lado de sua mesa de trabalho. Você fica envergonhado porque isso te incomoda profundamente, já que você não consegue explicar o porquê de, imediatamente depois, você está fazendo o mesmo. Se você lhe oferecer um copo de café, uma Coca-Cola, um guaraná, ou mesmo um desses energéticos, além de ele lhe dar um sermão de como tratar bem seu organismo, deixando de lado os conservantes, as gorduras trans, os aromatizantes, etc; ele, simplesmente, vai recusar. Então, ofereça-lhe uma maçã! Assim, ele vai lembrar seus tempos de escola, em que ele levava todas as semanas uma maça para a professora gostosa e, com certeza, não irá recusar. Qualquer contratempo diga-lhe que a maça é excelente para prevenir e manter a taxa de colesterol, também tem um efeito acentuado para emagrecimento, não que ele precise é claro, que produz uma acção benéfica sobre o coração, evitando a deposição de gorduras na parede arterial, a arteriosclerose e blá blá blá. Levando em consideração seu comportamento maníaco-compulsivo por comidas orgânicas diet-light ele não pensará duas vezes, sempre terá maçãs à mesa e você, junto com ele, darão adeus aos bocejos indesejados.